segunda-feira, 15 de novembro de 2010

                                
                                         Raymundo Netto


                                                 Bolero

A vida é redonda: um rondel, um rondó, um rondão...
Quase como sem fim, a vida vívida vive visceral e mente.
Quisera, completamente, fosse ela quadrada, cheia de arestas, cantos, ângulos retos e encontros...

Quisera fosse uma linha, única, indivisível, tangente, determinante, secante ou simplesmente uma linha de arraia a seguir, folha solta, ao vento pululante.
Quisera fosse de brincadeira, café-com-leite, carrinho na ladeira, macaca com pedra na risca de giz, ou uma casa abandonada, a meia-porta de madeira descansada na soleira infeliz.

Quisera não fosse nada, nem um único ponto, nem um átimo de tempo, nem uma lembrança ou um só abrigo.

Que não deixasse registro nenhum sobre a Terra.
Que não apontasse nada em nada.
Que fosse nem morte quanto vida.
Que não fosse se não seria, se não tão-só estivesse.
A vida é redonda: um rondel, um rondó, um rondão...

Um comentário:

Cristovam Melo disse...

Muito bom, cara. Adorei o poema assim como o visual e a qualidade do material disposto nesse blog. Parabéns!

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