Corrosão
Carlos Vazconcelos
Por dentro do casarão
os ratos roem o tempo
roem o passado onírico
vitrola, salão de festa
deitado porém insone
ouço os ruídos, roídos
tenho medo de dormir
roem as rótulas da porta
roem as ripas e os ritos
ranhuras no corrimão
rasuras na certidão
rasgos no cimo do oitão
por dentro do casarão
cupins corroem as lembranças
corroem o passado intato
bengala, biblioteca
insone porém deitado
ouço o ranger do portão
tenho medo de acordar
quedam-se vigas e estrados
quedam-se torres e lendas
som de relógio enguiçado
rumor de reza rosário
rumor de riso refrão
por dentro do casarão
traças estraçalham trevas
desvirtuam tradições
alcova, criado-mudo
deitado insone porém
ouço grilos, pirilampos
tenho medo de sonhar
rompe-se a cumeeira
rompe-se a madrugada
rastro parede porão
retrato recordação
correntes e corrosão
Nenhum comentário:
Postar um comentário