terça-feira, 9 de agosto de 2011

             
                                                                          
          Corrosão
Carlos Vazconcelos

Por dentro do casarão
os ratos roem o tempo
roem o passado onírico
vitrola, salão de festa

deitado porém insone
ouço os ruídos, roídos
tenho medo de dormir

roem as rótulas da porta
roem as ripas e os ritos

ranhuras no corrimão
rasuras na certidão
rasgos no cimo do oitão

por dentro do casarão
cupins corroem as lembranças
corroem o passado intato
bengala, biblioteca

insone porém deitado
ouço o ranger do portão
tenho medo de acordar

quedam-se vigas e estrados
quedam-se torres e lendas

som de relógio enguiçado
rumor de reza rosário
rumor de riso refrão

por dentro do casarão
traças estraçalham trevas
desvirtuam tradições
alcova, criado-mudo

deitado insone porém
ouço grilos, pirilampos
tenho medo de sonhar

rompe-se a cumeeira
rompe-se a madrugada

rastro parede porão
retrato recordação
correntes e corrosão


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