quinta-feira, 25 de agosto de 2011



                         Todos os Caminhos Levam à Paris


Por Brennand de Sousa


...É a realização de um sonho, compreende senhorita?...
Desde rapazote sinto uma atração inexplicável pela Europa, pela França particularmente... Coisa curiosa mesmo... Assim... Como se já conhecesse tudo aquilo... A Catedral de Notre Dame, Versalhes e seus jardins perfeitamente geométricos... O Louvre com sua multidão de janelas... Tudo me é familiar, até aquela pirâmide transparente que recentemente fincaram em frente ao museu... O Sena, por exemplo, é como se já houvesse percorrido aquelas margens pavimentadas à exaustão, tal é a intimidade com a paisagem. Às vezes chego a sentir os ares, o perfume das árvores da Champs Elisèe. A Torre Eiffel!!! Nem conto o quanto já subi ao seu mirante... Os cafés parisienses! Saudade que sinto só de apreciar as mesinhas estendidas sobre as calçadas generosas. Olho pra um café daqueles e não consigo optar... Todos me são prediletos.

Um amigo espírita garantiu-me que é coisa de reencarnação... Reencarnação, a senhorita já ouviu falar, pois não? Vai saber...

Meu caçula vive lá, no lugar que sempre almejei. Quando partiu atrás de trabalho, um pouco de mim foi ter com ele. Era como se parte de minhas pernas perambulasse pelos bulevares parisienses, como se uma nesga de meus cansados olhos presenciasse uma luz que me é tão íntima... E cá estou eu, realizando o sonho de toda uma vida.

E a senhorita... Onde vai? Paris também? Ahhh ... Também! Que maravilha!

Será que vamos na mesma companhia? ...? ...? Qual? Air France? Ahhh... Minha empresa é outra!

Desculpe-me a intromissão... Mexe com o que, a senhorita? Ahhh... Pesquisadora !? Interessante!

Sou alfaiate aposentado. Meu caçula é quase isso, ou melhor, mais que isso... Dizem que estilista é um alfaiate metido à besta... A senhora sabe, nossa profissão foi praticamente extinta pelo prêt-à-porter!!! Por lá, a moda é forte! Meu rapaz sempre teve facilidade para o desenho... Tem mão, cabeça de artista... Ambição, coisa que nunca tive... A não ser essa que ora vos confesso!

A senhorita não está ansiosa? Sei... sei, compreendo! Sorte sua, viajar com tal frequência! Eu pelo menos estou! Voei pela última vez na década de sessenta. Fui entregar cinco ternos de casamento na cidade de Santos. Lembra dos turbo-hélices? Claro que não, vê-se que a senhorita não tem trinta anos! Hoje as máquinas são bem mais seguras, pilotam-se praticamente sozinhas, o problema é depois que soltam do chão! Aí ficamos ao sabor de Deus!

Tenho meus receios com aviação, é que sempre disse pra mim mesmo que não morreria feliz sem visitar a França... Não pense que é só Paris que me atrai.  A Bretanha, a Normandia, o Loire, as regiões vinícolas...

 A mim só me falta pisar!

E a senhorita... Casada? Ahhh... Claro senhorita, desculpe-me, não a incomodo mais... Desculpe-me... Sinceramente! Que velho inoportuno! Perdoe-me, é que estou um pouco ansioso... É a realização de um sonho, compreende?! Estou que não me agüento!

Olha aí! Ouviu? Não é o vôo da senhorita? ...? ...? Escute, chamou novamente!

Foi um prazer conhecê-la e vá perdoando este velho xereta! Faça boa viajem, seja bem feliz!

Adeus, moça! Adeus!  

Tão novinha... Em Paris! Aahhh!...

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